Os Coronéis do Cacau

Nesse universo do cacau, os coronéis - os grandes fazendeiros - ditavam as normas e controlavam a vida de todos que deles dependiam: Era o cacau que lhe dava mais dinheiro e, especialmente, era o cacau que lhe proporcionava status no seio da comunidade.
E eram nas mãos dos fazendeiros de cacau, os coronéis do cacau, que estava o controle da economia, da política e da cultura da região no início de século XX.

Caracterização do Coronelismo

O coronel recebe seu nome da Guarda Nacional, cujo chefe do regimento municipal investia-se daquele posto, devendo a nomeação recair sobre a pessoa socialmente qualificada, em regra detentora de riqueza, à medida que se acentua o teor de classe da sociedade. Ao lado do coronel legalmente sagrado, prosperou o “coronel tradicional”, também chefe político e também senhor dos meios capazes de sustentar o estilo de vida de sua posição.
Homens ricos, ostentando vaidosamente os seus bens de fortuna, gastando os rendimentos em diversões lícitas e ilícitas foram tais “coronéis” os que deram ensejo ao significado especial que tão elevado posto militar assumiu, designando demopsicologicamente “o indivíduo que paga as despesas”. E, assim, penetrou o vocábulo “coronelismo” na evolução político-social do nosso país, particularmente na atividade partidária dos municípios brasileiros.

O Coronelismo na política da região do cacau

Na região Sul da Bahia, a base sobre a qual se edificou o coronelismo regional foi a propriedade fundiária. Embora não houvesse muitos coronéis nessa região com patente outorgada da Guarda Nacional, segundo Falcón (1995, p. 88), o que mais importava eram o prestígio e as posses, que demonstravam a força de um coronel
No universo regional relativo ao período, um fazendeiro abastado era aquele que possuía acima de duzentos mil pés de cacau, glebas de terra superiores a duzentos e cinqüenta hectares e que produzia anualmente mais de cinco mil arrobas. [...] Tais posses possibilitavam elevado nível de exploração da fazenda, empregando considerável número de trabalhadores entre cinqüenta e cem -, bem como produziam renda suficiente para permitir a construção na sede do município, de palacetes ostentatórios e bem mobiliados, com o evidente propósito de explicitar status social e demonstrar publicamente o poder do dinheiro dos seus proprietários.
A violência constituía a retaguarda fundamental para os coronéis. [...] Tal influência projetava-se para além dos limites da dominação exclusivamente política, buscando legitimar-se [pela força] por todo o corpo social. Não seria exagero afirmar que os coronéis possuíam poder de vida e de morte sobre a sociedade.

O Coronel e a Política

[...] O coronelismo se manifesta num “compromisso”, uma “troca de proveitos”, entre o chefe político e o governo estadual, como o atendimento, por parte daquele, dos interesses e reivindicações do eleitorado rural. [...] Em troca, os empregos públicos, sejam os municipais ou os estaduais, sediados na comuna, obedecem ás suas indicações. Certas funções públicas, não institucionalizadas, estão enfeixadas em suas mãos. Daí que o coronel, embora possa ser oposicionista no âmbito municipal, - coronel contra coronel há de ser governista no campo estadual e federal.

E assim nos aparece este aspecto importantíssimo do coronelismo, que é o sistema de reciprocidade: de um lado, os chefes municipais e os coronéis, que conduzem magotes de eleitores como quem toca tropa de burros; de outro lado, a situação política dominante no Estado, que dispõe do erário, dos empregos, dos favores e da força policial, que possui, em suma, o cofre das graças e o poder da desgraça.

O Trabalhador

Gente que chegava sem dinheiro, fazia-lhes o fazendeiro um primeiro empréstimo para facilitar a aclimatação e permitir-lhes adquirir os instrumentos necessários; a fazenda lhes fornecia casa, geralmente de graça; e dentro da própria fazenda havia o armazém, de propriedade do fazendeiro ou este arrendado a alguém, onde o trabalhador fazia seu fornecimento de víveres e roupas. Em geral, eram-lhes concedidas pequenas porções de terra para plantar ou para criar porcos e galinhas. [...]. A vida estava, para eles, concentrada na fazenda; iam à vila próxima ou para festas de igreja, ou para atos que necessitassem da presença da autoridade pública. [...] Prendia-os à fazenda não tanto o contrato, que geralmente era de um ano, mas as dívidas desde o início contraídas com o patrão e o que os azares da adaptação, as incertezas da vida numa terra estranha tornavam difíceis de saldar. [...] Mas era regra permanecerem os trabalhadores muitos anos na mesma fazenda, sujeitos ao mando do patrão; e se antes esse ia a vila votar acompanhado somente de seu clã familiar, agora comandava um “eleitorado de cabresto” muitíssimo mais numeroso.

Fonte:

PANG, Eul-Soo. Coronelismo e Oligarquias: A Bahia na Primeira República Brasileira. Tradução de Vera Teixeira Soares. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1979.

FALCÓN, Gustavo. Os coronéis do cacau. Salvador: Ianamá / Centro Editorial e Didático da UFBA, 1995.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O mandonismo local na vida pol(QUEIROZ, 1969, p.83-84tica brasileira. São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros, (1969, p.83-84.)

JOSEMAR, Santos Tonico - Mestre em Letras: Linguagens e Representações (2011), pela Universidade Estadual de Santa Cruz
MARIA D‘AJUDA, Alomba Ribeiro - Doutora em Linguística Aplicada pela Universidade de Alcalá de Henares-Espanha